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segunda-feira, 8 de outubro de 2018

"O Ponto de Cruz - a grande encruzilhada do imaginário"

Graças à rede de Bibliotecas de Lisboa (a que todos temos acesso, sem excepção) fiquei a saber que existe (e requisitei) um livro chamado "O Ponto de Cruz - a grande encruzilhada do imaginário", catálogo de uma exposição feita em 1998 no Museu de Arte Popular, de que não tive conhecimento, na altura.


Com este livro fiquei a saber bastante sobre a história deste tipo de bordado em Portugal.

"Embora o fiar viesse já documentado na conhecida cantiga de tear de Estevam Coelho,

"Sedia la fremosa seu sirgo torcendo
se voz manselinmoha fremoso dizendo
cantigas d'amigo."

é no documento testamentário de Maria Anes de Nisa, de 1413, que registamos a mais antiga referência ao bordado, um "travesseiro lavrado" ou ainda na "Farsa de Inês Pereira", representada a D. João III no Convento de Tomar, no ano de 1523, em que Inês lamenta:

"(...) e assi hão-de ser logrados
dous dias amargurados,
que eu posso durar viva
e assi hei-destar cativa
em poder de desfiados?(...)

Desfiados ou alinhavados de Nisa, bordados de Tibaldinho, de Guimarães, de Viana do Castelo, de Castelo Branco ou das Caldas, caracterizam algumas regiões do país, mas é o ponto de cruz aquele que se encontra de Norte a Sul, como elemento decorativo do trajar e do bragal.

Pela simplicidade de execução e pela ampla divulgação através das revistas, o ponto de cruz vai ser o ponto mais bem aceite pela burguesia do principio do século, que o utiliza igualmente na concepção de pequenos quadros decorativos, ideia ainda hoje presente manas revistas da especialidade. É, no entanto, nos Lenços de Amor ou Lenços de Namorados que encontramos a maior riqueza decorativa e a imaginação mais subtil. Quadras amorosas, corações, chaves, pomba, cartas, silvas entrelaçadas, marcam a iconografia simbólica e pública do Amor.(...)"

Elisabeth Cabral, Directora do Museu de Arte Popular 

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